sexta-feira, 18 de maio de 2007

Educação Física e Pesquisa Historiográfica: aula introdutória.

Há muitos anos que no campo da Educação Física brasileira tornou-se muito difícil falar e estudar outras coisas que não sejam músculos, nervos, tendões, inserções, aponeuroses... força, resistência, potência e velocidade... exercício físico e esporte... Contudo, há muitos anos que a Educação Física vem sendo também constituída por um corpo de estudiosos e intelectuais que abordam o campo de outros prismas sociais, culturais, científicos e filosóficos. Disciplinas como filosofia, epistemologia, ciências sociais, psicologia, psicanálise, história, literatura sempre atuaram forte e efetivamente no interior das tramas pedagógicas e políticas da Educação Física. Em um dos livros clássicos de nossa área Educação física, recreação e jogos, que data de 1958, Inezil Penna Marinho aborda inúmeras temáticas onde nossa disciplina está teórica e praticamente implicada: atividades naturais, ginástica, jogos, brinquedos, folclore, gincana, música, cinema, teatro, doença mental, valor social, economia, psicologia, sociologia, filosofia, pedagogia são assuntos desenvolvidos pelo autor. Com efeito, é possível perceber na prática, que o desenvolvimento de outras áreas no campo da Educação Física vem ocorrendo de maneira restrita ou regionalizada à alguns grupos acadêmicos. A grande mídia quase nunca noticia trabalhos multi, inter e transdisplinares de nossa área. Restringem-se a associar nossos professores a atividades como musculação, alterofilismo, treinamento de atletas etc. Atualmente existem variados exemplos de professores pré-escolares, fundamentais, médios e universitários que sem muita visibilidade midiática, trabalham sob outras perspectivas. A profa. Dra. Iara Maria de Carvalho, antiga professora da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR - e hoje professora da Universidade de São Paulo - USP, dedica se trabalho ao estudo da atividade física relacionadas às concepções de corpo e saúde na atualidade, tendo como referencial teórico as ciências humanas, a filosofia, as ciências sociais e a história. Em entrevista a Revista Digital Espaço Aberto (http://www.usp.br/espacoaberto/) a professora responde algumas questões realizadas pelo reporter Gabriel Attuy. O tema geral da entrevista foi justamente a relação da Educação Física com outras áreas do conhecimento, retratada pela trajetória profissional da Profa. Iara Maria de Carvalho, que em uma passagem declara:
"Enquanto fazia o curso de graduação, estudei disciplinas de outras áreas, filosofia, história da ciência, ciências políticas, matérias da educação. Até que fui cair na saúdecoletiva, que era um curso de especialização na Unicamp com enfoque na área de humanas", conta Yara. "Eu consegui agregar diferentes áreas fundadas numa mesma linguagem científica."
A professora ainda comenta um caso que aconteceu com ela, onde estava envolvido o fato de não ser muito comum as pessoas imaginarem o professor de educação como um profissional que necessita estudar e produzir filosofica, sociológica e antropologicamente. Citação:
"Já aconteceu comigo. Uma ocasião em que viram um livro meu e me disseram: 'nossa Yara, não sabia que você escrevia'. E eu disse: 'Sim, escrevo, sei falar e sei ler'. A idéia que as pessoas têm da gente é que temos uma dificuldade em nos expressar, mas nós temos de mudar isso."
Sobre isso, é fácil recorrer à prática cotidiana dos cursos de Educação Física onde muitos iniciados - alunos de primeiro semestre - ficam surpresos quando consta na grade curricular disciplinas como filosofia, história, sociologia. Sendo neste ponto que desejamos nos deter para os fins deste blog. No caso de nossa displina - História da Educação Física - a qual este blog está atrelado, ela é colocada como uma matéria puramente teóricas, já que está localizada em um curso superior que carrega o pressuposto da realização de trabalhos puramente corporais: esportes, atividades físicas, treinamentos. Atentando a esse aspecto podemos formular dois questionamento. O primeiro, mais freqüentemente citado, é que as disciplinas das ciências humanas presentes em nossas grades curriculares se justifica por causa das matérias do corpo não estarem separados das matérias da mente, propondo assim uma união entre um e outro através do diálogo entre a teorização do corpo e a prática da teorização. Já a segunda altercação tenta demonstrar que as chamadas disciplinas teóricas no espaço da Educação Física não servem apenas para dar aparato acadêmico, metodológico e epistemológico às disciplinas que operam com a aplicação da teoria. Quais sejam: o treinamento, a modelagem corporal, o esporte. Mesmo por que, essa parte é mais bem aplicada aos estudos da anatomia, fisiologia, biomecânica, que visam diretamento o desenpenho físico-corporal. Assim nos perguntamos: qual é a aplicação prática do estudos filósoficos, históricos, sociológicos, atropológicos no contexto empirico das aulas de educação física? De modo mais direto: em que contribui essas disciplinas chamadas de puramente teóricas, por exemplo, no aumento do diâmetro de bíceps dos alterofilistas? Pois bem, trata-se de uma pergunta que não se tem resposta pautada na lógica da causa que promove um efeito diretamente. Todavia, oferecemos uma saída prática a tais matérias teóricas. Qual? Exercer sua própria prática no contexto atual da Educãção Física. Mais detidamente, a displina que está promendo este blog vem trabalhando no sentido de despertar a possibidade prática de se trabalhar com a historiografia da Educação Física. Em outros termos perguntamos: qual é a parte prática da disciplina História da Educação Física? Respondemos: Fazer história da Educação Física! Ou ainda: contribuir com a historiografia da Educação Física. Como? Pesquisando! Dizemos isso pois uma consideração é certa. Campos como como o da filosofia, sociologia, antropologia e história, nasceram justamente da prática investigativa dos fenômenos cotidianos dos seres humanos, envolvido pela: sociedade, cultura, política, economia. Tudo isso no sentido de construir um entendimento acerca do fenômeno mais amplo que é a própria Educação Física. Não esgotando nossos argumentos por aqui, ponderamos que por esse caminho é possível pensar de maneira absolutamente estrita na prática do profissional com seus alunos, atletas, pacientes durante a estruturação as aulas em ginários, campos, academias. Como? Tentaremos responder exemplificando. Nós profissionais que já atuamos com a Educação Física em escolas, academias, clubes, comunidades em geral, de sol a sol, de vento a vento, areia, terra, cimento em meio a agitação de nossos alunos, sabemos que o trabalho não é fácil, pois nem sempres nossos alunos, atletas, pacientes estão dispostos a exercitarem nossas recomendações, outras tantas vezes eles não se interessam, algumas outras, eles não compreedem por não verem sentido. Nossa hipótese que sugere uma saída acerca de um entendimento dessas dificuldades, argumenta que na maior parte das vezes é necessário conhecer basicamente a comunidade com a qual vai se trabalhar no sentido de mapear seus desejos, intensões, interesses... Suas determinações. Trilhando por essa reflexão, podemos abordar disciplinas como História da Educação Física como sendo uma possibilidade conhecer melhor a cultura corporal de uma população: seus jogos, suas brincadeiras, seus ideais corporais, suas tradições. Visando melhor adaptar nossos planejamentos de aula, bem como produzir sentidos culturais para a prática de um atleta que irá representar um município, um estado, um país. Mais ainda, estudos dessa natureza, além de contribuirem como o próprio campo - a história, a sociologia etc. em si mesmas - podem também influenciar no entedimento da cultura alimentar, visual, oral, técnica e teconológica que determinam fortemente a escolha das atividades física preferidas de uma população. Disso, podemos adaptar, reproduzir, produzir e criar novos elementos na cultura corporal. Sendo assim, ainda que básicos, introdutórios e incipientes, os trabalhos produzidos pelos estudantes desta disciplina especificamente, constituem um começo que pode servir de exemplo e fonte de estudo dirigida às nossas mais variadas práticas.
Docente: Renato Izidoro da Silva.

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