quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A História da Educação Física em Minha Vida

APRESENTAÇÃO
Eu, Ricardo Oliveira da Anunciação Santos, natural de Mutuípe - Bahia, brasileiro, afro descendente. Filho de Valmirez Manoel dos Santos e Eliene Oliveira da Anunciação Sousa, nascido em 14 de junho de 1985. Venho através desta dissertação apresentar um pouco de minha relação histórica com a Educação Física.

INTRODUÇÃO
Neste trabalho demonstrarei como a Educação Física entrou em minha vida. E como as práticas esportivas fizeram de mim um amante dos esportes e de tudo que se relaciona com a disciplina Educação Física.
Falarei sobre todos os esportes que já pratiquei: Futebol, Capoeira, Rapiquido, Caratê, Boxe, Kung Fun e o Judô. Esses esportes fazem parte de toda minha história com a Educação Física. E, portanto, levarei ao conhecimento de todos, como cada um deles contribuiu para minha formação tanto quanto cidadão tanto como atleta.

A CAPOEIRA
Pratiquei a capoeira de forma muito divertida, pois não tínhamos um lugar adequado para praticar este esporte tão lindo e rico em elementos culturais. Sempre aos domingos e feriados, eu e um grupo de amigos juntos com um instrutor de capoeira que gostava de trabalhar com crianças, nos reuníamos em um campo de futebol, ou em um pasto onde com muita vontade fazíamos os alongamentos preparatórios para a execução dos movimentos acrobáticos da capoeira. Neste pouco tempo que tínhamos para nos reunir e treinar, também era o espaço onde aprendíamos a respeitar uns aos outros.
Durante este período que aprendi os primeiros conceitos de humildade. Pois éramos todos pobres e sem um lugar adequado para se praticar uma atividade física tão maravilhosa como a capoeira.
Foi naquele campo de futebol que discretamente comecei a descobrir como é maravilhoso praticar uma atividade corporal. Tudo aquilo era motivo de alegria e diversão para nós, crianças que não tínhamos nem se quer um brinquedo para nos divertir em casa. Contudo, repentinamente, encontramos em um gingado, em uma dança, em uma cultura, estímulo para crescermos e descobrirmos novos caminhos e mudar nossa vida e nossa história. Passei dois anos da minha infância fazendo sempre as mesmas coisas nas manhãs de domingos e feridos. Contava os dias para chegar aquele momento tão mágico que iria viver. Foi a partir desse momento que surgiu minha paixão pelo esporte e pela Educação Física que até então, para mim, se resumia na brincadeira de bola na escola.

O RAPKIDO
Comecei a ter acesso ao esporte rapkido quando tinha 10 anos de idade, através de um primo que servia o exército e sempre vinha passar as férias em Mutuípe, cidade onde sempre moramos. Ele dedicava o maior tempo de suas férias para treinar. E eu, curiosamente, ficava observando os seus movimentos que me pareciam leves e suaves.
Ao completar 11 anos de idade, meu primo veio morar em Mutuípe pois ele havia sido dispensado do exercito. A partir daí ele me chamou para treinar e eu aceitei com muito entusiasmo. Nós treinávamos em dias alternados, o local de treino era na quadra do colégio onde eu estudava e o pai dele trabalhava. Nós chegávamos as 05h 30 min da manhã e ficávamos até às 06h 30 min., pois às 07:00h haveria aula.
As primeiras lições que ele me passou foram relacionadas ao autocontrole: aprender a controlar os impulsos nos momentos de raiva, a respeitar os amigos e colegas; e nunca resolver as discussões na porrada. Buscar sempre as soluções dos problemas dialogando com a pessoa, pois só assim no futuro poderia me tornar um homem de valor e respeito. Conhecer mais um esporte com alguém da minha família foi maravilhoso, pois internalizei os princípios éticos, morais e a filosofia de uma arte macial que tem como objetivo formar bons homens para atuar na sociedade. Treinei apenas um ano. Tendo finalizado assim a minha relação com o rapkido. Pois o meu primo Fábio voltou para salvador.

O FUTEBOL
Como toda criança gosta de futebol eu não era diferente. Sempre gostei de jogar bola, e qualquer lugar que desse para fazer de traves dois pares de sandálias, estava eu ali com meus amigos jogando bola. O futebol foi um tempo de muita felicidade em minha vida. Com 12 anos, na sexta série fui convidado para disputar o campeonato intercolegial de futsal pelo time de minha escola: Escola Estadual Ruy Barbosa. E eu aceitei. Foi minha primeira competição no esporte, pois as outras realizações esportivas que tive contato não eram para competir, mas para mim uma diversão.
Nesse campeonato, nosso time foi até a semifinal, quando fomos eliminados pelo nosso principal rival: O time do Colégio Dr. Julival Rebouças. Foi uma experiência maravilhosa na qual pude por em prática muitos dos ensinamentos que aprendi nos esporte anteriores como: respeito, autocontrole e acima de tudo a humildade de reconhecer que o outro foi melhor do que nós em determinados momentos.
Posteriormente ao campeonato escolar, a prefeitura da cidade organizou o campeonato municipal de futebol de campo nas categorias juvenil e adulto, e o treinador do time da escola foi convidado para colocar um time para disputar esse campeonato, ele tinha a base da equipe formada, mas precisava de outros jogadores. E assim fui convocado. O nome do time era Cruzeiro, no qual fiz novos amigos e conseguimos ser campeões invictos do primeiro campeonato de futebol da cidade. Nossa equipe não parou por aí, disputamos outros campeonatos em outras cidades e fazendo novos colegas em cada lugar que disputávamos. Foi maravilhoso, mas com o passar do tempo o time chegou ao fim, pois já não treinávamos e não havia mais campeonatos para serem disputados. Essa é a ralação do futebol em minha vida.
Muito antes de começar a participar equipes de futebol pude ver o Brasil ser campeão do mundo em 1994, quando nossa seleção de futebol se tornou tetracampeã. Era possível ver a alegria de cada jogador, em ver seus objetivos alcançados. Isso serviu de incentivo para minha vida, pois a maioria daqueles jogadores viera de uma classe social desprivilegiada. A partir daquele dia vi que todos nós podemos mudar nossa realidade social se acreditarmos em nossos sonhos e termos a humildade de aceitar a ajuda das pessoas, e por mais que seja difícil sempre venceremos. Isso criou uma grande vontade de jogar futebol e como todo menino também sonhei em um dia poder vestir a camisa da seleção brasileira. Sonho alimentado por muito tempo.
Também pude ver na Copa do Mundo seguinte, no ano de 1998, a derrota da nossa seleção de futebol, na final, para a seleção da França. Mas o melhor estava por vir no ano de 2002, apesar de todas as dificuldades de se classificar para a copa. Fiquei muito preocupado pois adorava ver o “Ronaldo fenômeno” jogar. Ele estava se recuperando de uma das lesões mais feias que o futebol já viu: o rompimento dos ligamentos do joelho. Entristecia-me toda vez que lembrava do fato de poder ficar de fora da nossa seleção. Mas, no decorrer da competição, testemunhei uma história linda de superação e força de vontade de um atleta que ressurgiu das cinzas como uma Fênix. “Ronaldo fenômeno” foi um e é um grande exemplo de persistência que eu já vi. Embora a triste desclassificação da seleção tenha sido inevitável nas quartas de finais da Copa do Mundo no ano de 2006: a seleção que era considerada uma das melhores que já tivemos. Mas, infelizmente fomos eliminados pela França outra vez. Isso tudo, hoje, tem uma grande importância para a minha vida, pois vejo no esporte, mais do que nunca, a maior rede de integração social. Vejo também que através do esporte podemos mudar a realidade dessa situação de preconceito que assombra nossa sociedade.

O BOXE
Em nossa cidade tínhamos como esportes mais conhecidos, o judô e o caratê. Porém, logo chegou na cidade um rapaz chamado Sócrates que tinha uma experiência muito boa com o boxe, decidindo, assim, montar uma academia na cidade. Como tudo novo desperta interesse, a academia só andava lotada, e eu como todo menino curioso fui visitar o espaço, e assistir um treino. Gostei! Comecei a treinar. Era muito bom, mas, com o passar do tempo foi se perdendo os princípios éticos e morais das lutas. Porque alguns dos praticantes estavam treinando e saindo à rua dando porrada em todos que encontravam pela frente.
Este fato foi o principal motivo para a academia chegar ao fim. Foi decepcionante ver um esporte tão bom, terminar graças àqueles que não sabem respeitar o outro e não têm disciplina para preservar a imagem de um esporte tão rico como o boxe. Muitas tentativas foram feitas para reerguer a academia, mas não adiantou, pois as pessoas da cidade discriminavam esse tipo de esporte por sua fama de ser violento demais e por tirar a paz das pessoas nas festas da cidade.
Foi muito gratificante depois de muitos anos ver o boxe brasileiro ganhar uma medalha de ouro nos jogos pan-americano do Rio de Janeiro de 2007, melhor ainda saber que foi um baiano que teve essa conquista, um garoto pobre que encontrou no esporte o caminho para fugir da dura realidade de miséria e sofrimento em que vivia. Pena que o incentivo que ele tem é muito pouco, pois as pessoas não se importam com as questões sociais da maioria da nossa população. Poderia citar outros feitos do boxe brasileiro no decorrer desses anos, mas, para mim o mais importante foi a conquista dessa medalha no Pan 2007.

O KUNG FU
No ano de 2001 chegou em Mutuípe um rapaz, primo de um vizinho. Ele era faixa preta em kung fun e tinha a apelido de Águia. E como seu primo tinha muitos conhecidos na cidade, resolveu fazer uma propaganda da arte macial na cidade, e logo conseguiu alunos suficientes para montar uma academia, e assim começaram as aulas que era no Clube Social de Mutuípe. Como minha família era amiga do primo do professor Águia, ele deu uma bolsa de treino para mim e para meu irmão e a partir daquele dia começamos a treinar o kung fu. Os treinos eram em dias alternados durante a semana e começava as 5:00h da manhã e encerrava às 7:00h.
Foi um tempo gratificante, mais um esporte para fazer parte da minha vida. No kung fu vim aprender coisas que eu só via ser feito em filmes, mas, tive o prazer de poder realizar algumas coisas que eu nunca tinha imaginado fazer. Pena que a academia só durou 10 dez meses, pois o professor voltou para Salvador e assim acabou o kung fu em nossa cidade.

O KARATE
Essa foi minha verdadeira paixão esportiva. Sempre fui louco por praticar o Karate, mas infelizmente, minha condição financeira não era boa para pagar as aulas que geralmente são muito caras. Sempre freqüentava academia de karate assistir as aulas para em casa fazer os mesmos movimentos. Era muito triste para mim ver muitos meninos da minha idade fazendo aquela maravilha, e eu ficava só na vontade de poder estar ali por um só instante, e me sentir um deles. Mas, isso nunca aconteceu.
Passei toda a minha infância sonhando em um dia poder treinar pelo menos uma vez o karatê, com todas aquelas pessoas que estavam ali treinando. Entretanto, isso ficou só nos meus sonhos, e doravante o tempo foi passando. Somente no ano de 2004, quando fui morar na cidade de Amargosa foi que tive o privilegio de ser convidado a treinar karatê. Tive o prazer de realizar meu sonho em um lugar onde poucos me conheciam. Foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Realizar meu sonho de infância que era poder um dia treinar karatê. Treinei durante um ano e depois desisti, pois não estava tendo mais tempo disponível para treinar. E assim terminou o sonho desse esporte em minha vida.
Foi maravilhoso ver o karatê no ano de 2007 nos jogos Pan-americano. Fiquei muito feliz, mais nisso tudo tive uma infelicidade, pude presenciar uma atleta baiana da cidade de Santo Antonio de Jesus, perder seu sonho por falta de patrocínio. Ela não pode ir aos jogos Pan-americano do Rio 2007. Senti como se fosse comigo. Via em seus olhos a tristeza de ver seu grande sonho fugir de suas mãos.

O JUDÔ
Foi no ano 2000 que tive o primeiro contato com esse esporte. Eu era coroinha da Igreja Católica da cidade e muito amigo do Padre. As aulas de judô eram no salão paroquial, e por ser desde pequeno um menino forte, o Padre me perguntou se eu queria treinar judô. E disse se eu aceitasse, me daria uma bolsa. Eu respondi que não me interessava por esportes de contato.
O Padre pediu para o professor de judô conversar comigo para tentar me convencia a praticar o esporte. Ele, com toda paciência do mundo, veio até mim e fez o convite para eu fazer uma aula se eu não gostasse poderia sair. E assim mesmo eu fiz. Essa conversa foi num sábado, logo na segunda seguinte, fui fazer a aula. E gostei, continuei indo e me apaixonei pelo judô, que me fez crescer: como homem, como filho, como amigo. E com esse esporte tão respeitado e praticado no mundo todo, fui mudando o rumo da minha vida.
Hoje não tenho mais paixão pelo judô. Amo fazer judô. Minha vida é o judô. Estou cursando Educação Física extremamente motivada pelo judô que através de sua filosofia, me mostrou que o esporte é um dos meios mais fáceis de fazer uma integração social. Que o esporte faz com que todas as pessoas se coloquem no mesmo nível, e se respeitem, e não se descriminem. Isso tudo eu devo a filosofia do judô que nos ajuda a trilhar pelo caminho da verdade e da humildade fazendo o ser humano feliz.
Com três anos de prática do judô pude sentir na pele o que é se fazer um esporte. Vi nas Olimpíadas de Atenas no ano de 2004, como o esporte transforma a vida das pessoas. Pude visualizar o poder de integração social que o mundo do esporte pode proporcionar ao mundo, e neste momento em que as diferenças de cor, classe social e religiosa podem ser deixadas de lado e o que importa é o espírito esportivo que cada atleta tem. Vibrei e comemorei muito cada vitória dos judocas brasileiros. Essa foi a primeira vez que vivi uma nova experiência na vida esportiva.
Nas Olimpíadas de Atenas pude ver novas competições e ver o esporte que eu tanto amo ter um desempenho fantástico. Tivemos também a melhor participação do Brasil nos jogos Pan-americano do Rio de Janeiro no ano de 2007, e a maior alegria foi ver o judô brasileiro no topo do melhor judô do mundo. Foi uma alegria que não posso nem descrever. Só sei dizer que o esporte é um dos maiores responsáveis para hoje eu estar aqui contando um pouco da minha historia. Nunca pensei que a filosofia desse esporte pudesse me proporcionar uma mudança de vida. Mas nos dias de hoje, tudo que eu sou é influência dos esportes que tive a oportunidade de praticar.

CONCLUSÃO
Todos os fatos relatados anteriormente demonstram de onde foi que surgiu meu gosto pelo esporte e também o desejo e vocação para cursar a faculdade de Educação Física. E através deste breve resumo da História da Educação Física em Minha Vida, venho dizer-lhes que o homem através do esporte e do conhecimento de sua filosofia pode mudar o seu destino. E digo mais, nunca, jamais desista dos seus sonhos porque o futuro pertence àqueles que acreditam que seus sonhos podem se tornar realidade.

Estudante: Ricardo Oliveira da Anunciação Santos


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